A CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) completa 30 anos no mês de maio de 2022. Sua criação foi responsável por unificar dois serviços que, até então, eram denominados como trens urbanos (embora não fosse incomum que fossem chamados de trens suburbanos, trens de subúrbio ou apenas subúrbios) e metropolitanos, estes últimos nascidos a partir de esforços consideráveis da Fepasa (Ferrovia Paulista S. A.), que viria a ser extinta na segunda metade dos anos 1990, ao ser incorporada à RFFSA (Rede Ferroviária Federal S. A.).
Ainda que de forma paradoxal, a extinção e inventariança da RFFSA, parte de um programa de desestatização que reorganizou a malha federal, que naquela altura já havia encolhido para cerca de 22 mil km, e abriu espaço para a ampliação do programa do Trem Metropolitano. Sem disputar espaço com trens de longo e médio percurso, o Trem Metropolitano se tornou praticamente hegemônico, não fossem por alguns trens de carga esporádicos, que circulam nos vales mais intensos.
Este programa nascido na Fepasa, alinhava-se com diferentes diagnósticos do Executivo paulista, a exemplo do Plano Metropolitano de Desenvolvimento Integrado, publicado na década de 70 pela Emplasa (Empresa Metropolitana de Planejamento S. A.), que preconizava a necessidade de aumento vertiginoso da oferta de lugares nos serviços de trens urbanos de diferentes ferrovias que compunham, de forma a torná-los pouco ou nada distinguíveis dos papéis esperados de linhas de metrô.
Em outras palavras, o Trem Metropolitano da Fepasa e, depois, Trem Metropolitano da CPTM, continuou sua evolução no tempo e no espaço para se consolidar como o sistema nervoso de alta capacidade da Região Metropolitana de São Paulo e da Aglomeração Urbana de Jundiaí, sendo, na prática, das duas redes de metrô que avançam sobre o território paulistano, a única com caráter eminentemente metropolitano, atendendo municípios a mais de 50 km da Praça da Sé, marco zero da capital paulista.
Luciano Ferreira da Luz, em sua tese de doutorado de 2010, aponta a magnitude do aumento de capacidade: “para comportar o grande crescimento da demanda, desde 1995 a oferta de lugares da CPTM cresceu 72% na hora pico. Como se nota, a oferta cresceu em ritmo menor ao da demanda, o que leva às explicações obtidas pelos indicadores propostos, que demonstraram o melhor aproveitamento dos lugares oferecidos, que saltou de 58,2% para 84,7% no sentido predominante e de 20,6% para 47,5% no contra fluxo”.
Nos dias atuais, a malha da CPTM tem aproximadamente 270 km, dos quais aproximadamente 130 km estão dentro da capital paulista, atendendo 23 municípios. Das sete linhas que compõem a malha, duas delas (8-Diamante e 9-Esmeralda) foram concedidas à iniciativa privada por três décadas.
Nos anos que antecederam a pandemia, o volume máximo de passageiros transportados girava em torno de 3 milhões de pessoas em média por dia útil. Mesmo que pareça pouco ou nada intuitivo, predominam os embarques no município de São Paulo, participação esta que já havia alcançado o patamar de 63% em 1995, como apontado por Ferreira da Luz (p. 48), cerca de uma década depois, a própria companhia estimava que 69% dos embarques se davam no município, com 19 km de percurso médio por passageiro.
Com o aumento da complexidade da malha, fruto de uma maior intermodalidade e de iniciativas que visam, por exemplo, reintroduzir a operação de serviços em escala regional, como poderá ser o caso do futuro Trem Intercidades entre São Paulo e Campinas, o papel da CPTM e do Trem Metropolitano se torna ainda mais crucial.
Finalmente, como grandes marcos do Trem Metropolitano, podemos destacar: o programa de modernização do eixo Mauá-Piritiba da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, que atualmente compreende o Serviço 710, que unifica as linhas 7-Rubi e 10-Turquesa; o programa de modernização das então linhas Oeste e Sul nas décadas de 1970 e 1980, atuais linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, que encerrou o triste capítulo do “trem da morte”, como eram conhecidos os serviços suburbanos da Estrada de Ferro Sorocabana, que pré-datou o surgimento da Fepasa; a dinamização da Linha 9-Esmeralda entre o fim dos anos 1990 e o início da primeira década de 2000; o surgimento do Expresso Leste, inaugurado em 27 de maio de 2000, um dia antes de a CPTM completar 8 anos; o projeto Integração Centro, que reconstruiu a Estação Brás e conectou a Estação da Luz da CPTM à estação homônima da Companhia do Metrô; a dinamização da Linha 12-Safira na primeira década de 2010, notabilizado pela inauguração das estações Comendador Ermelino, USP Leste, Itaim Paulista e Jardim Romano; e a inauguração em 2018 da Linha 13-Jade em sua primeira fase, responsável por conectar a malha da CPTM ao aeroporto internacional de Guarulhos, sendo também responsável pela completa reconstrução da Estação Engenheiro Goulart.